segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"Surdo a qualquer zen-budismo o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem família, quem sabe nem moradia — coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban — filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto que alguém me salvasse do pecado de querer abrir o gás."

(Caio Fernando Abreu - Pálpebras de Neblina; Pequenas Epifanias)

3 comentários:

Fernando Gonçalves disse...

Olá, parabéns pelo seu blog.
Te convido a conhecer o meu,
http://carmasepalavras.blogspot.com/

Gilmara Wolkartt disse...

Preciso cotidianamente de alguem que me salve de abrir o gás...
Caio é o cara!
Gd beijo

AugustoCrowley disse...

Nossa que profundo!