Querida mãe, querido pai,
Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos – quase 40 – anos. Devo estar acostumado.
Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.
Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como “eu gosto de você”. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.
Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.
Amo vocês, seu filho,
Caio.
8 comentários:
Olá Lih.
Vim avisar que tem selinho para você em meu blog. Beijinhos, minha flor. Não esqueça de passar lá para buscá-lo :)
Com amor,
Cynthia =*
Me identifiquei demais com essa carta, concordo que infelizmente o destino de um escritor é a solidão mesmo...
to seguindo o blog!
Ah, essa carta é a melhor... Fico triste lendo, mas é tão forte...
Amado Caio...
Sábias escolhas!
Beijo
Ah, essa carta me deixa triste... Mas mesmo assim, eu adoro!
Amado Caio...
Sábias escolhas!
beijão!
Oi Lih, estou passando para agradecer a sua participação no sorteio do meu blog.
Beijos.
Muito bom aqui !
estou seguindo .
beijos
Nossa, me identifiquei completamente com o texto...
"Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la."
Parece controverso mas é o que acontece comigo...Tenho muito amor, muitos sentimentos bons dentro de mim, ajudo todos meus amigos a superarem seus problemas, mas não consigo viver minha vida, não consigo fazer o mesmo por mim...Demonstrar claramente que gosto, etc...
Só quem passa por isso sabe como é... :(
Bj*
Seu blog eh ótimo!
;)
Verdade,o escritor fala com o mundo de forma diferente.Sente a presença do outro na mente, fala com as palavras, mas fisicamente precisa se isolar pra sentir de forma original.
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