quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lágrimas ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

(1894-1930)

2 comentários:

JasonJr. disse...

Você já tá guardadinha aqui mocinha!
E eu não esqueço quem merece! ;D :D

Thay Negrão disse...

Olá!! Adorei seu blog...
Confesso que me perdi por aqui lendo tudinho e valeu a pena...! rsrs
Beijos, tudo de bom!!!