sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Márcia Duarte

Entre uma gargalhada e outra, numa mesa de bar, uma garota que conheço desde os tempos de colégio – e com quem pouco convivo – me perguntou se alguma vez na vida eu já fiquei triste. A pergunta me espantou tanto que sequer consegui responder de imediato. Percebendo meu embaraço, ela prosseguiu: “sempre te vejo com um sorriso gigantesco no rosto, sempre soltas brincadeiras ou piadas, sempre tens uma palavra para alegrar e espantar qualquer desânimo”. A menina falava aquilo de forma tão positiva, de maneira tão carinhosa, que fiquei com dó não atender suas expectativas e esbocei um sorriso de concordância, daqueles com a boca retorcida. Mas como sou péssima com mentiras ou omissões e não consigo manter segredos meus, vou logo assumir: eu fico triste, todos os dias, invariavelmente. Consigo ser feliz e infeliz ao mesmo tempo. Livros e filmes, documentários e notícias, facilmente fazem brotar esses dois sentimentos aqui por dentro. Emoções perceptíveis a olho nu, meu olhar se nubla enquanto meu coração amolece meus lábios. Aliás, para saber de mim procure reparar nos meus olhos, eles não foram feitos para enganar. Um pai de família que perde os limites da dignidade para sustentar seus filhos. Uma mentira mal contada por quem teme as conseqüências da verdade. Um amigo que parte para um rumo irreversível. Uma criança criada com muito dinheiro e pouco afeto. Um animalzinho mal tratado. Posso estar saltitante caminhando pela rua, mas é só presenciar uma cena que envolva qualquer desses diagnósticos para eu que absorva todo o drama dos outros e os recrie dentro de mim. Sou uma esponja sentimental. E sim: sou muito triste até na minha alegria. Sou triste também quando o e-mail não chega, assim como o pagamento ou o namorado que prometera me ver no final de semana. Sou jururu quando a gripe me ataca, quando as amídalas trancam minha garganta e não consigo falar. Sou infeliz quando não sou ouvida, não sou amada, não sou amiga de quem confia em mim. Sou borocoxô quando me decepciono com minhas próprias atitudes ou com a falta delas. Sou melancólica no colorido do meu quarto, com as luzes apagadas e o som ligado. Mas só me vê triste quem consegue me ver sozinha. Para as outras ocasiões é que foram criados os óculos escuros e os sorrisos amarelos.

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