quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, deviasprecipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia,
no vento...
Dorme, meu filho.

3 comentários:

Vinicius disse...

Gosto muito deste poema do Drummond. Bom gosto. Abraço.

Priscila Rôde disse...

Um dos meus favoritos! ;)

Diego Snake disse...

Não sou um grande conhecedor da obra de Drummond, mas admiro e gosto de muitos de seus poemas. Não conhecia esse, mas já se tornou um dos meus preferidos.